Iyami Osoronga

“O corpo humano feminino é representado como um trono, onde a criança pode sentar-se, é o símbolo sagrado da Grande Mãe.” 

 (Susanna Barbara; 1995:88) 

 

Ìyámi Òsòròngá, a Grande Mãe (Ajé) 

A voz do Poder da Fêmea Universal 

Ìyámi Òsòròngá (grande mãe bruxa), Eleye (senhora dos pássaros), Ìyámi (minha mãe), Aje, são os nomes pelos quais essa entidade é conhecida, que na realidade são várias divindades agrupadas sob o mesmo termo. 

Ela é a responsável por estabelecer o controle e o equilíbrio da natureza, estabelecendo a harmonia e a ordem em toda a criação, utilizando para o efeito o chamado osogbo para esse efeito, através dos chamados osogbo ou ayeo; iku (morte), arun (doença), ofo (perda), eyo (tragédia), etc.  

Ìyámi ilê oro. Minha mãe da casa sagrada, minha mãe da casa sagrada, Mãe que tem todo axé, minha mãe dará proteção para todas as pessoas; minha mãe da casa sagrada. 

IYA IYANLA – O MOVIMENTO MATRIARCAL 

Antes que tudo mudasse pela imposição do movimento patriarcal (A era histórica do século XVI ao século XIX, no qual poderosas tropas literárias e invasões patriarcais, guerras, e subjugação, para conquistar, escravizar, explorar e tirar o poder), foram as regras matriarcais que garantiram as mulheres certa posição de força na sociedade. 

A nação Yorùbá, desde o século XVI esteve em contato direto com o Islã e durante o século XIX com Cristianismo (de acordo com registros). A cultura e crença Yorùbá têm sido influenciadas por estas visões culturais e religiosas, no qual as fortes influências de gênero/sexo por Deus e Allah é uma figura masculina. Antes do movimento patriarcal, muitas sociedades antigas foram matriarcais. As mulheres tinham o poder de disposição de como governar e guiar suas famílias, do compor e de território, não como uma forma de vitória das mulheres sobre os homens, mas numa aceitação de um equilíbrio harmônico de direitos iguais na finalidade de construir e liderar uma sociedade melhor nos seus componentes de ambos os sexos. Durante esses dias, havia uma linhagem matriarcal onde crianças eram identificadas nos termos de suas mães ao invés de seus pais, estendendo famílias e alianças tribais formadas ao longo de linhagens femininas. Durante esses dias, mulheres tinham a autoridade de governar, estabelecer a sociedade e eram consultadas para propósitos maiores. O dom natural das mulheres como videntes combinado com seu entendimento da natureza deu a elas a sabedoria para reconhecer o misticismo da vida. Foram suas respeitadas responsabilidades para manter a força vital sobre seus componentes. A ordem social, cultural e espiritual das regras do matriarcado foi baseada em princípios inteligentes, cultivados por mias de séculos de experiências femininas. Uma decisão muito bem fundamentada em comportamento equilibrado que praticava igualdade recíproca, respeito por tudo, independente de gênero/sexo e idade. 

A nação Yorùbá, assim como outras culturas pelo mundo, não escapou da influência de outras culturas. Interpretações e traduções formam influências fortes que descreveram tudo do ponto de vista masculino. Todas as culturas começaram a agarrar somente o ponto de vista masculino e rejeitaram a parte feminina. Todas as nações começaram a adaptar e adotar conceitos dessas culturas cruzadas como uma proibição cultural, ou tabu, especialmente aquelas que tinham a ver com mulheres envolvidas. Nenhuma prática religiosa ao redor do mundo, inclusive o Oráculo de Ifá, escapou dessas influências patriarcais durante a era das cruzadas culturais. Cada visão religiosa incluindo o Oráculo de Ifá foi inundada com muito desses conceitos no qual mulheres eram excluídas 8 da participação em papéis principais como governantes ou líderes de um Ilé (casa religiosa). 

Dentro do Oráculo de Ifá, o tópico de Odù, Gbadu, Igbá Odù, Igbá Ìwà ou Cabaça da Existência, apresentam dificuldades comuns aos seguidores religiosos das influências das culturas cruzadas internas e externas. A exata origem de Odù (não confunda com Odù Ifá) é desconhecida, mas todos concordamos que Odù é o segredo mais venerado de Ifá, que foi descrito como O Universo, o poder divino, criou-se e se recria perpetuamente, uma energia criativa chamada Àṣẹ, o Vodun (Òrìṣà) de Ifá, que ninguém pode compreender seu total significado.  

Afá como Ifá é uma prática cosmológica que não somente descreve as energias da natureza, mas toda essência filosófica e metafísica dessas energias, e como seu relacionamento entrelaça e interage com ambos os mundos (material e espiritual) com todos os seres vivos. Afá é o nome dado a prática cosmológica do povo de Arara (daomeano) que são comumente chamados de Vodun. É descrito como uma tradição que abrange o intrínseco da vida e da existência de alguém. É dito que do sul de Senegal (Antigo Gana) até Abẹ́òkúta na Nigéria, são as origens e o desenvolvimento da religião Vodun, especialmente o Ewe do Togo (do qual os Fon são um subgrupo). Afá é visto e descrito como um processo divinos e eficaz que mantém a qualidade de vida numa harmoniosa balança entre os dois mundos. Por último, ao contrário às práticas de Ifá/Òrìṣà, certas mulheres foram chamadas ou marcadas para se tornarem Afasi (Ìyánifá/Bokono) no Oeste Africano Mami Wata e tradição Vodun, trabalham diretamente com Gbadu (Ìyá Nlá Odù).  

As divindades Yorùbá são consideradas descendentes deste princípio criativo, a energia Àṣẹ. Para os praticantes de Ifá e Afá não há “livro religioso” padrão. No começo, todas narrativas foram transmitidas oralmente (o que não impediu a omissão ou adição de algo) e atualmente em ambos os sentidos, oralmente e escrito, o conhecimento que temos em várias áreas ao redor do mundo sobre o panteão Yorùbá são derivados na maioria das vezes por intermédio de Ifá – Sacerdotes e

sacerdotisas de Afá muitas vezes através de intérpretes que levaram ao erro e ao mal-entendido, uma vez que as palavras não têm o mesmo significado em todas as culturas e territórios. Mesmo uma pessoa religiosa habilmente didática da África consideraria impossível dar a outra pessoa de origem intelectual ocidental, qualquer ideia adequada explícita de informação, uma vez que cada comunidade de acordo com sua própria linguagem e dialeto (que em sua maioria são de formas tonais), tem diferentes significados para uma palavra ou expressão. Noutras palavras, muitas culturas compõem a estrutura de qualquer Continente que permita cada comunidade individual (cidades ou estados) ter sua própria linhagem ancestral, educação, lendas urbanas, comidas típicas, nomes, provérbios, modo de falar, filosofia e até mesmo variações e estruturas políticas individuais e comunitárias, África não é exceção. 9 O sistema de culto de Odù tem amedrontado tantas pessoas de diferentes comunidades Yorùbá, que seguem o oráculo de Ifá e Afá, porque seu poder tem sido tão incompreendido. 

 O sistema de culto de Odù tem sido extremamente esotérico, desde seus objetos de reverência, sofreu tantas mudanças nos processos de preparação e crença das regras de cada comunidade e variedade de costumes.  

Os modos de preparação de um objeto físico para cultuar essa Energia Suprema é simbolizado de um a vários tamanhos e formas, cabaças, que contém muitos objetos secretos e ingredientes; (dependendo do lugar ou região onde é preparado) que representa a existência, além disso, as interpretações dos Oríkì, Ìtàn, Iwere e Ẹsẹ carregam numerosos significados do qual Odù simboliza dependendo da geografia, definições étnicas e locais. Aqui estão alguns significados de como Odù é visto e explicado:  

  • “Aquela que tem olhos em todos os lugares”;
  • “A justiça suprema, que discerne o bom do mal”; 
  • “Aquela que dá e tira vida”; 
  • “Cabaça da existência”; 
  • “Alguém que é ancestral, antigo e respeitado”;
  • “Aquele que criou o mundo e a natureza”;
  • “Aquela que tem dezesseis olhos”; 
  • “Aquela que criou três reinos – o Mar, a Terra e o Céu” 
  • “Aquela que gerou a si mesma”.

No entanto, os significados diferem por seus propósitos, composição e território onde é preparado ou recebido.  

Os temas de Odù são encontrados com ambivalência, que se tornou habitual para pessoas que não compreendem seu significado total. Alguns anciãos Yorùbá dizem que Odù é o sinal mais forte de Ifá e Afá e tem o poder de matar seus iniciados quando eles se deixam levar pelo poder que esta entidade lhes permite usar. Além disso, muitos sentem que Odù traz perigo para a casa onde é recebida, porque Odù não se entrega ao seu portador; se a pessoa a ofende, a pessoa será punida e pode até morrer. O nível de medo inspirado por Odù supera o limite do normal, e por esses medos, a aquisição de Odù foi vista como extremamente séria e teve que ser vitalmente considerada antes de tê-la ou recebê-la. No entanto, acreditam que existem compensações e vantagens para possuir a energia que cria uma ligação sólida entre a

pessoa e Odù, o que torna a pessoa superior aos outros.  

Descrevendo e visualizando desta forma, é admissível apresentar uma origem e um desenvolvimento cercado de medo sobre Odù. Os Seres Humanos não devem ter medo quando tentam adquirir conhecimento. Os seres humanos têm uma propensão para buscar e compreender com racionalidade o caminho da vida. É justo expressar em um processo criativo que faz com que incorpore 10 coisas que surgem da não compreensão. Portanto, a influência deste behaviorismo pode ir além da imaginação e das mutações para incluir dispositivos de controle em qualquer narração religiosa ou literatura como parte da transmissão de fatores culturais. Para abordar o tópico de Odù que mantém contradições, é necessário fazer uma pergunta, de onde vêm as semelhanças dos fatores de medo e controle e qual tipo de influência transcultural vai ser usada para explicar esse fenômeno.  

Vamos analisar o grande medo do desconhecido que cercam esse fenômeno. Odù para fins de discussão é um conhecido como Ìyá Nlá, classificado e visto como a chefa de Àjẹ́. Este medo baseia-se na informação mal interpretada que foi adotada pelo culto desconhecido de Ìyá Nlá e seu poder. Isso é visto como uma ameaça. Todas as práticas culturais e religiosas têm seus medos do desconhecido e os ensinamentos de Ifá NÃO é exceção. No entanto, devemos entender que sem a influência do poder de Ìyá Nlá (Odù) a interpenetração do oráculo, ficaria impotente. Uma força Awo Ifá (masculina e feminina) vem de Ìyá Nlá (a Mãe Criadora) também adorada por diferentes nomes de louvores, além de Odù, Igbá Odù e Gbadu, como Ìyámi Òṣòrọ̀ngà (a Mãe Grande e Misteriosa), Ìyá Agbè (Mãe da Cabaça Fechada), Ere (Aquele que tem Odù, filho de Python ou a Mãe das dezesseis figuras de Ifá, sendo Ọ̀ run seu décimo sétimo filho), Ìyámi Wa (Nossa Mãe Primordial).  

Dentro do Oráculo de Ifá como uma forma de ensinamento de encarnação mística de Ìyá Nlá, podemos encontrar todas as disciplinas como filosofia, literatura, ciência, sociologia, ecologia, psicologia, farmacopeia, artes, matemática, leis e feitiçaria. Quando falamos sobre o misticismo que está dentro desses caminhos, estamos falando sobre a Face e a Verdade de Ìyá Nlá e a base da existência de todas as coisas, além do passado, do presente e do futuro. O lado místico de Ìyá Nlá nos ensina a entender todos os caminhos que envolvem suas artes. Os adeptos abrem as portas para os processos de cura ou formas prejudiciais? No entanto, essas artes não realizam suas funções se a pessoa não tem conhecimento, sabedoria, compreensão e senso comum, para entender o significado das ferramentas e componentes que tomamos da arte desse curso, a fim de fazer mudanças bem-sucedidas através da Interação pessoal com as funções místicas e naturais de tais componentes. O ensino místico de Ìyá Nlá através do oráculo de Odù é sobre o entendimento do equilíbrio, ação e autodeterminação entre as forças da natureza e a energia canalizada da pessoa. Este misticismo ensina que apontar forças sobrenaturais pode ser um risco duplo que expõe todos os comportamentos incorretos que a pessoa está tentando esconder, bem como todos os bons comportamentos que a pessoa abriga. No entanto, tem a alternativa de que uma vez que a pessoa aceita sua própria ignorância e se permite compreender o conhecimento que estas forças naturais trazem, e então, através do oráculo de Odù, Ìyá Nlá (Odù) revela a sabedoria à pessoa. 

Através do oráculo, aprendemos as leis eternas da natureza e todos os seres vivos dentro da existência, a realidade, a lógica, o raciocínio e o senso comum para conhecer o resultado (positivo ou negativo) na vida cotidiana, tendo como referência eventos passados como exemplo. Os ensinamentos esotéricos de Ìyá Nlá dentro do oráculo é manter a verdade como um fato em nossa maneira de ser, se fizermos todas as coisas da melhor maneira possível, como seres humanos.  

Ìyá Nlá (Odù) ensina através do oráculo a investigar coisas seguindo a guia de experiências anteriores (tradição) de eventos passados para descobrir o que funciona e não funciona de acordo com a era ou o tempo em que realmente vivemos para entender o que procuramos e as possibilidades de resultado. A base de Ìyá Nlá ensina-nos (seres humanos) a superar as lutas e os temores da vida, através de um trabalho organizado (ou seja, consulta ao oráculo, oferendas, etc.) com todos os seres vivos para manter o equilíbrio. Ìyá Nlá através dos oráculos nos ensina a não choramingarmos, reclamarmos ou sermos indulgentes em autopiedade. A filosofia de Ìyá Nlá ensina a enfrentar problemas realisticamente e logicamente para chegar à raiz dos problemas para determinar o método para resolver ou eliminá-los. O ponto de vista de Ìyá Nlá nos encoraja a desenvolver o conhecimento para adquirir a sabedoria que nos permite questionar e buscar os fatos para evitar cair no pragmatismo e nas ficções. O sistema de Ìyá Nlá nos ensina a viver na realidade como indivíduos que têm que lutar em circunstâncias um tanto diferentes através de transformações mágicas para realizar ou adquirir resultados.  

Em todas as sociedades ao redor do mundo, os machos têm tentado destruir o potencial da mulher, minimizando seus atributos e sua sabedoria. No entanto, o poder de Ìyá Nlá que foi dotado através de direitos herdados à mulher não pode ser destruído, nem menos ser ignorado. O sábio conhecimento da existência de Ìyá Nlá se manifestou desde o início do tempo. Não obstante este poder inato de Ìyá Nlá concedido a mulher e aos homens (como filhos desta Grande Mãe) nos permitem trabalhar com ela. Quando os homens realmente começam a trabalhar com a energia de Ìyá Nlá, eles devem demonstrar continuamente e sinceramente a intenção, a atitude e respeito pela mulher e nunca seja abusivo com a mulher por sua própria causa.  

Ọ̀ SÀ MÉJÌ  

Odù trouxe e abençoou a máscara Egúngún,  

Ẹ̀là fundou e abençoou a sociedade Orò,  

Ẹ̀là abençoou todos os santuários de Òrìṣà,  

Ofereça respeito às mulheres,  

Foi uma mulher que nos trouxe para este mundo,  

Os segredos do mundo pertencem a mulheres,  

Mostre respeito pelas mulheres.